Nos seriados policiais, os roteiristas de TV fazem parecer fácil concluir quem foi o autor e entender como um crime aconteceu a partir de pequenos vestígios. Já na vida real o trabalho é bem diferente. Não há roteiro definido para as investigações e a rotina estressante pode prejudicar até a vida pessoal do perito criminal. Há quase 20 anos nessa área, o físico Ermindo Lopes Filho do IC-SP (Instituto de Criminalística do Estado de São Paulo) conta que, na busca pelos vestígios de um crime, é preciso ter olhos treinados, enfrentar cenas fortes, e até fazer terapia. Um caso como o do empresário Marcos Kitano Matsunaga, morto e esquartejado pela própria mulher, por exemplo, é chocante até para quem tem anos de experiência.
Filho conta que o trabalho de um perito começa logo após o crime, quando a Polícia Militar - após fazer a primeira "vistoria" - preserva o local e o IC é chamado. É feita, então, uma varredura em busca de provas materiais. Segundo Filho, perito e fotógrafo caminham “quase que paralelamente” para gravar todos os vestígios deixados.
— Às vezes tem uma pegada, uma mancha de sangue, tudo é fotografado e medido. Se o cadáver está no local, fazemos o entorno até o limite da pele dele. O estudo para dentro do corpo, quem faz é o IML (Instituto Médico Legal). Com a junção dos dois laudos, é possível ter ideia do que aconteceu. Olhamos sinais de arrombamento, posição em que cada elemento se encontra, se a roupa da pessoa foi rasgada.
Segundo o físico, ao ver o tipo de lesão provocada na pele, o perito consegue “chegar à arma usada no crime”, por exemplo. Ele conta que “a experiência” também ajuda a sentir a dinâmica do acontecimento.
— É preciso sentir se o crime foi passional, latrocínio, desova. Dependendo da cena, começo a buscar possibilidades e pensar no autor. Num ambiente rural, a vítima sofreu lesão com uma marreta... Certamente essa marreta ficou por lá, porque só pode ter sido uma briga [...] Geralmente, crimes que não são premeditados os autores usam armas improvisadas, como faca, tesoura, saco plástico. Já arma de fogo, em geral, é para crimes premeditados e a pessoa leva embora [sic].
Depois do levantamento de vestígios, é necessário traçar o “vínculo” entre o fato e os “atores daquele ambiente”, explica Adílson Pereira, diretor do IC-SP.
— Com esses materiais biológicos [sangue, saliva, cabelo] devidamente tratados é possível estabelecer de quem eles vieram. O laboratório elabora a análise, volta para o perito, ele junta tudo e forma um laudo. Essa peça técnica científica vai entrar no processo e é quase irrefutável.
Uma das principais dificuldades do trabalho, segundo Pereira, são os fatores que modificam os vestígios. Ele conta que a “contaminação do ambiente” ou das pessoas que “conhecem criminalística e mudam o local” atrasam o trabalho.
— Autor que tem tempo de pensar e tempo para disfarçar, fica mais difícil para nós. O Mizael Bispo [acusado de matar MérciaNakashima] é ex-policial e advogado e tem conhecimento de criminalística. A família dos Nardoni também. Precisamos usar cada vez mais tecnologias para chegar ao responsável. Os policiais também, se não estão bem treinados, podem contaminar o ambiente. Por exemplo, nós perdemos de 80 a 100 fios de pelo por dia.
Problemas de saúde
Lidar com cenas monstruosas muitas vezes ainda provocam “perturbação” psicológica no profissional, conta Filho. Ele mesmo diz que já se sentiu mal ao ver casos de corpos em putrefação.
— Trabalhava com isso numa fase em que estava morando sozinho. Eu acordava e pensava “se eu morrer aqui, vão me achar da mesma forma”, porque quando passam dias depois da morte, o corpo fica enorme. Aliás, é muito difícil ver uma pessoa esquartejada. Um corpo sem cabeça, uma cabeça sem corpo. Ter que juntar os pedaços para fotografar. Nessa época, procurei um psiquiatra e tomei remédio.
Representante do Sindicato dos Peritos Criminais do Estado de São Paulo, Maria Márcia Kesselring, diz que a falta de profissionais na área é também um dos fatores que tem prejudicado a vida do perito no Estado. Segundo ela, isso faz com que as poucas pessoas que trabalham na área tenham um rotina de trabalho “extremamente estafante”.
— Os profissionais são muito estressados. Eles chegam a atender de 30 a 40 locais por dia, lidando com todo tipo de crime. Têm pessoas que chegam a trabalhar 88 horas, mais que o dobro das 44 horas permitidas na semana.
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Postado por Lucas Jnds
Brasília – Mesmo depois de uma série de reuniões com ministros e manifestações durante toda a semana, a presidenta Dilma Rousseff vetou integralmente o Projeto de Lei 5.649/09, que reconhecia como perito oficial os profissionais de perícias papiloscópicas e necropapiloscópicas. A justificativa da decisão, publicada na edição desta sexta-feira (2) do Diário Oficial da União, diz que o projeto é inconstitucional uma vez que mesmo não sendo de iniciativa do presidente da República, dispõe sobre o regime jurídico de servidores públicos, contrariando a Constituição Federal.
“Também de maneira inconstitucional, o projeto invade competência dos estados, em violação ao princípio federativo, ao tratar de regras relativas à organização da Polícia Civil”, disse a presidenta Dilma Rousseff.
Como o Congresso tem prazo de 30 dias para analisar o veto, a partir de agora a categoria promete se mobilizar para conseguir a derrubada dele junto aos parlamentares. Os papiloscopistas são responsáveis pela identificação criminal por impressão digital ou reconstituição facial – retrato falado e projeções de envelhecimento.
“Nós estamos absorvendo essa noticia . O vício de inciativa é um absurdo. Isso não é verdade. A própria ministra [da Secretaria de Relações Institucionais], Ideli [Salvatti], que foi a autora da proposta, disse na época que o reconhecimento se tratava de matéria processual, ou seja, de segurança jurídica da prova que nós produzimos”, disse à Agência Brasil o presidente da Federação Nacional dos Profissionais em Papiloscopia e Identificação (Fenappi), Antônio Maciel Aguiar Filho.
Ainda segundo a Fenappi, a aprovação do projeto supria uma lacuna da Lei 12.030/2009, que reconheceu como peritos oficiais apenas os médicos legistas, odontolegistas e peritos criminais. “O governo ainda não entendeu que essa lei, de 2009, que nos deixou de fora do rol de peritos oficiais é um problema para nós”, alertou Maciel.
Ele lembrou que no dia 16 de julho uma liminar da 2ª Vara da Fazenda Pública do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) proibiu os papiloscopistas da Polícia Civil da capital federal de emitirem quaisquer documentos oficiais. A decisão evidencia uma rixa antiga entre papiloscopistas e peritos criminais, já que foi tomada com base em um pedido da Associação Brasiliense dos Peritos em Criminalística (ABPC). A Associação Brasiliense dos Papiloscopistas do Distrito Federal (Asbrapp) entrou com o recurso para anular a liminar e aguarda decisão que pode sair ainda hoje. As informações são da Agência do Brasil.
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Postado por Lucas Jnds